
O rapaz do cabelo verde
Era uma vez um menino de nome
Pequena Alegria que vivia com os pais e dois irmãos numa casa toda de madeira.
O pai era caçador de estrelas
cadentes, porque estas quando armazenadas durante muito tempo, tinham o dom de
curar os males da alma.
A mãe colhia pequenas pedras com
poderes mágicos que tratavam os desalentos de amor do coração dos homens.
Um dos irmãos era criador de
pássaros violeta, que tinham como missão ajudar os humanos a comunicarem entre
si, quando os seus corações estavam congelados pelo frio do sofrimento.
O outro irmão recolhia e armazenava
a água da chuva, que depois de 22 dias e 22 noites se transformava em água da
vida e ajudava os homens a terem alegria de viver.
Mas o nosso herói não tinha missão
especial. O resto da família não sabia porquê, mas também não se importava
muito... Mas esta criança era infeliz. Toda a família tinha um destino, uma
missão, só ele é que não. Porquê? Era o seu fado ser assim? Porquê todos eram
especiais, menos ele? Para piorar a situação, um dia de manhã, o seu cabelo
castanho ficou verde. Era um verde que se destacava, muito bonito, da cor das
folhas na Primavera. A mãe quando o viu ficou em pânico, o pai atónito e os
irmãos não sabiam o que dizer. Foi levado pelos pais ao feiticeiro dos pequenos
seres humanos, mas este quando o viu ficou espantado e não sabia porquê Pequena
Alegria tinha o cabelo assim e o pior era que também ele não sabia como tirar
aquela cor estranha. Disse à mãe do rapaz do cabelo verde, que talvez o cabelo
voltasse à cor antiga... Que nunca tinha visto nada assim...
Pequena Alegria e a mãe foram para a
casa toda de madeira e quando lá chegaram as lágrimas começaram-lhe a correr
pela face do rapaz. A mãe de nome Água das Nascentes dos Rios, disse-lhe:
"Tenhas o cabelo verde, roxo,
vermelho, castanho, não me interessa, mas o que é realmente importante é que és
meu filho e que estás a sofrer! Por algum acaso do destino, o teu cabelo ficou
verde, e isso deve ter um significado. Qual é não sei! Mas já viste a cor
bonita que tem o teu cabelo? Faz-me lembrar o verde da planície, o verde das
águas..."
Mas, mas o rapaz do cabelo verde não
se conformou... A partir desse dia, ainda se sentiu mais infeliz. Na escola, os
colegas olhavam-no de soslaio. Era tão esquisito com aquele cabelo! Pensavam
que tinha alguma doença e afastaram-se dele. As mães dos colegas foram falar
com a professora de Pequena Alegria e perguntaram-lhe se aquela cor iria
"pegar" aos filhos.
A família do rapaz ficou indignada e
o pai de nome Mar Bravo que gosta do Vento, resolveu que o filho iria ter aulas
em casa e seriam os irmãos que lhe ensinariam o que deveria aprender, visto
estes serem mais velhos e já saberem de cor e salteado as matérias da escola.
Contudo, o nosso herói não quis.
Queria ir à escola. Gostava do ambiente da sala de aula, do cheiro dos livros,
do papel, dos lápis, do som dos colegas a falarem, de brincar às escondidas, de
jogar futebol...
Quando o pai soube, sorriu.
Orgulhava-se daquele filho, que enfrentava a discriminação. Pensou que embora
não tendo "missões especiais", como os outros membros da família, tinha algo de
muito mais especial... O seu coração era do tamanho do mundo! Desde menino que Pequena
Alegria impressionava os outros com a sua generosidade. Talvez fosse, pensou o
pai, o destino deste pequeno rapaz ajudar os outros...
Passaram-se muitos dias e muitas
noites, mas a cor do cabelo do nosso herói, continuava verde. Na escola, já se
tinham habituado à cor estranha. Pouco a pouco o medo ia-se dissipando, mais
ninguém ficou com o cabelo verde... Pequena Alegria, já não era posto de parte.
Até já o convidavam para jogar futebol... Também, este rapaz com o coração do
tamanho do mundo, deixou de se interessar pela estranha cor do seu cabelo.
Um dia, quando acordou, reparou que
a cor verde tinha desaparecido e o cabelo castanho que caracterizava o seu
cabelo tinha voltado a aparecer. Sorriu e percebeu o porquê da estranha cor
verde. Não é importante sermos especiais, os melhores, mas sim gostarmos de
nós, exactamente como somos e a partir desse dia nunca mais quis ter nenhuma
missão especial, como os irmãos, mas sim conseguir fazer os outros mais
felizes, pois essa era a sua "verdadeira missão".